terça-feira, 11 de setembro de 2012


Garoto das Meias Vermelhas

Ele era um garoto triste. Procurava estudar muito.
Na hora do recreio ficava afastado dos colegas, como se estivesse procurando alguma coisa.
Todos os outros meninos zombavam dele, por causa das suas meias vermelhas.
Um dia, o cercaram e lhe perguntaram porque ele só usava meias vermelhas.
Ele falou, com simplicidade:
"no ano passado, quando fiz aniversário, minha mãe me levou ao circo".
Colocou em mim essas meias vermelhas.
Eu reclamei. Comecei a chorar.
Disse que todo mundo iria rir de mim, por causa das meias vermelhas.
Mas ela disse que tinha um motivo muito forte para me colocar as meias vermelhas.
Disse que se eu me perdesse, bastaria ela olhar para o chão e quando visse um menino
de meias vermelhas, saberia que o filho era dela."

"Ora", disseram os garotos. "mas você não está num circo.
Por que não tira essas meias vermelhas e as joga fora?"
O menino das meias vermelhas olhou para os próprios pés,
talvez para disfarçar o olhar lacrimoso e explicou:
"é que a minha mãe abandonou a nossa casa e foi embora".
Por isso eu continuo usando essas meias vermelhas.
"Quando ela passar por mim, em qualquer lugar em que eu esteja,
ela vai me encontrar e me levará com ela."

Muitas almas existem, na Terra, solitárias e tristes, chorando um amor que se foi.
Colocam meias vermelhas, na expectativa de que alguém as identifique,
em meio à multidão, e as leve para a intimidade do próprio coração.
São crianças, cujos pais as deixaram, um dia, em braços alheios,
enquanto eles mesmos se lançaram à procura de tesouros, nem sempre reais.
Lesadas em sua afetividade, vivem cada dia à espera do retorno dos amores,
ou de alguém que lhes chegue e as aconchegue.
Têm sede de carinho e fome de afeto.
Trazem o olhar triste de quem se encontra sozinho e anseia por ternura.
São idosos recolhidos a lares e asilos, às dezenas.
Ficam sentados em suas cadeiras, tomando sol, as pernas estendidas,
aguardando que alguém identifique as meias vermelhas.
Aguardam gestos de carinho, atenções pequenas.
Marcam no calendário, para não se perderem, a data da próxima visita,
do aniversário, da festividade especial.
Aguardam...

São homens e mulheres que se levantam todos os dias, saem de casa,
andam pelas ruas, sempre à espera de alguém que partiu, retorne.
Que o filho que tomou o rumo do mundo e não mais escreveu,
nem deu notícia alguma, volte ao lar.
São namorados, noivos, esposos que viram o outro sair de casa,
um dia, e esperam o retorno.
Almas solitárias. Lesadas na afetividade. Carentes.

Pense nisso!
O amor, sem dúvida, é lei da vida.
Ninguém no mundo pode medir a resistência de um coração
quando abandonado por outro.
E nem pode aquilatar da qualidade das reações que virão daqueles
que emurchecem aos poucos, na dor da afeição incompreendida.
Todos devemos respeito uns aos outros.
Somos responsáveis pelos que cativamos ou nos confiam seus corações.
Se alguém estiver usando meias vermelhas, por nossa causa, pensemos se esse
não é o momento de recompor o que se encontra destroçado,
trabalhando a terra do nosso coração.
A maior de todas as artes é a arte de viver juntos.


                                                                          Carlos Heitor Cony




Esta obra de arte de Carlos Heitor Cony é de uma sensibilidade...

Retira de dentro do coração muito pensar...

Como é séria esta verdade que ele diz:"A arte de viver juntos é a maior de todas"...

A expectativa das esperas da vida; esperar ou deixar que nos esperem é dolorosa, é invasora.

O mais fácil e cômodo é ignorar que o outro coração sofre porque não há maneira de retirar o que já foi construído, o que já foi conquistado...

A espera é tão perigosa...É uma ladra de sonhos doces que ficam alojados, resguardados dentro de nossas almas...

Sonhos que nos mantém...

Em se tratando de relações humanas a imparcialidade para amarmos é o caminho maravilhoso no exercício deste amor.

Focar nosso amor só naqueles que nos cercam, é o que faz a maioria de nós.

Só viver em função dos familiares é uma violência grave que cometemos contra nós e todos que aguardam por nós, pela nossa chegada em suas vidas pela nossa proximidade...

Pela vida à fora quantos corações que esperam...

É de dar pena...

Mães e pais que esperam pelos filhos, pelos netos ausentes...

Filhos que aguardam pais ausentes...

Amigos que esperam por amigos...

Amores únicos e insubstituíveis que ficam sozinhos esperando...Esperando...

Estas magníficas "meias vermelhas" que simbolizam a esperança e a confiança do coração humano que luta bravamente para não se deixar derrotar pela omissão do outro coração.

Estes sinais deixados pela espera podem ser inúmeros...

Até mesmo os cabelos que vão embranquecendo pelo tempo e que jamais são disfarçados com nova cor...

Como disfarçá-los se eles contam sem palavras que é chegado o tempo de maior cuidado.

O tempo de maior preocupação e atenção para com os nossos amores... 

Quando estamos nos tornando mais vulneráveis...

Todo coração  que anda por ai compreenda que podemos amar a todos.

O coração é bem grande, porque fecha-lo como uma concha?

A angústia de não tentar amar por medo consome nossas almas arruína nossos sonhos.

O tempo é implacável e na sua passagem em linha reta pode nos pegar com muitas surpresas.

Aliás sempre surpresas inesperadas...

Deus abençoe você...
                                                                                  Maria da Graça
                                                                                  04/09/2012



Um comentário:

  1. Maria, que linda reflexão!!!
    Esperança é a palavra-chave,não é mesmo??
    ... nos conduz às sublimes formas de amar... Obrigada por mais esta maravilhosa e encantadora experiência de leitura... Muita luz e muita paz... Fique com Deus!
    Beijinhos,
    Ana

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"Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar." (Dalai Lama)